Agosto Baiano
Por Hilton Coelho e Débora Menezes

No dia 12 de agosto de 1789, "manifestos pela liberdade" apregoados em locais públicos da então Capitania da Bahia conclamavam uma revolução e a instalação de uma "República Bahiense". Esse foi um movimento coetâneo ao que se conjurava em São Domingos, que culminou na Revolução Haitiana, em 1791. Ambos acontecimentos nas Américas colonizadas teceram diálogos cosmogônicos dos povos escravizados e traficados com os ideais da Revolução Francesa de 1789.


Os "bahienses" revolucionários queriam um estado de "homens iguais", um "estado feliz". E isso só seria possível com liberdade. Mas desde a colônia conhecemos o que é a violência institucionalizada. A tirania colonial deu cabo a uma perseguição voraz, culminando em trinta e sete réus sentenciados, entre os quais, cinco, todos negros, condenados à pena de morte. Quatro deles, João de Deus do Nascimento, Manuel Faustino dos Santos Lira, Lucas Dantas de Amorim Torres e Luiz Gonzaga das Virgens, foram enforcados no dia 08 de novembro de 1799, na então Rua da Forca, hoje, Praça da Piedade. Seus corpos negros e racializados foram esquartejados e suas cabeças, pernas, braços e troncos atravessados por estacas e expostos nas ruas da capital. Um exemplo sórdido da violência colonial aos que ousassem lutar por igualdade e liberdade. Luís de França Pires, o quinto condenado ao enforcamento e esquartejamento, foragido, jamais foi encontrado.


A Revolução dos Búzios não seria possível sem a participação de mulheres negras, como Ana Romana Lopes, Luiza Francisca de Araújo, Lucrécia Maria Gercent, Thomázia Francisca Vilela e Clara Maria de Jesus, também condenadas e sentenciadas à prisão. Elas desempenharam uma grande estratégia de costura da conjuração, grande exemplo de luta organizada e montada a médio e longo prazo.


Esse foi um movimento emblemático da resistência negra e mestiça, que, ainda hoje, luta por justiça social, por libertação, moradia, igualdade e contra todas as formas de opressão e violência, nascidas do racismo e da misoginia.


Nesse mês de agosto, vamos nos inspirar nessas lutadoras e lutadores, que se queriam como República Bahiense, com outro projeto civilizatório, para lutarmos contra a política da morte.


Que os "manifestos da liberdade" assinados pela RESISTÊNCIA sejam reverberados em todos os corações que não combinam com a tirania.



Imagem: IRDEB