Por Débora Alcântara e Carlos Oliveira
Gabriel Silva da Conceição, uma criança de 10 anos, morreu na madrugada da segunda-feira (24/07), após ter sido baleado, na tarde de domingo (23), no bairro de Portão, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. A família enlutada declara, e testemunhas confirmam, que a criança foi atingida durante uma ação policial, enquanto brincava na porta de casa.
O caso Gabriel faz parte de um cenário em que crianças e adolescentes são alvos de balas “perdidas” ou que “acham”, de forma deliberada, corpos negros em operações policiais.
A Bahia vem sendo laboratório da política mais bem acabada do genocídio da população negra através de uma política de segurança pautada na pecha da “guerra às drogas”.
É o que se pode afirmar com os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, que mostra a polícia baiana como a mais letal do País, tomando o lugar do Rio de Janeiro, historicamente o estado que despontava nos índices de violência policial.
O estudo mostra que, em 2022, as polícias militar e civil da Bahia foram responsáveis por 1.464 mortes em operações oficiais, o que equivale a 22,7% do total de 6.430 mortes causadas pelas polícias em todo o Brasil, nesse mesmo ano.
De 2015 - quando começaram a ser feitos registros estatísticos sobre operações da segurança pública -, para 2023, a Bahia teve um aumento de 313% referentes a mortes por intervenções policiais.
O estudo revela ainda que, enquanto o número geral de mortes violentas teve uma redução de 5,9% no estado, comparando com os dados de 2021, em um ano, dentro dessa estatística se percebe o aumento de 9,7% das mortes decorrentes por operações policiais baianas.
Só não temos ainda o levantamento sobre quantas crianças e adolescentes estão nesse caldo de corpos e sangue deixado pelo Estado. O último estudo do Fórum de Segurança Pública e Unicef sobre a “violência policial contra crianças e adolescentes” não inclui a Bahia por falta de dados que deveriam ser fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) estadual. A SSP também não discrimina, entre as polícias Civil e Militar, as mortes decorridas das intervenções policiais.
Esse é um indicativo de como o governo do Estado vem tratando a política de segurança na Bahia: com descaso e ocultamento de dados relevantes para avaliações do impacto dessa política pública.
A cor do alvo- Em 2021, o Fórum de Segurança Pública constatou que, somente em Salvador, além de outras cidades baianas, como Santo Antônio de Jesus, 100% das vítimas fatais dessas operações eram pessoas negras. Em todo o estado essa marca ultrapassa os 98%.
Qualquer desculpa por parte dos governos petistas para justificar esse massacre operado pelo estado é indefensável.
A pergunta que não se cala é: por que o governador Jerônimo Rodrigues ainda não providenciou a instalação de sistema de vídeo e áudio nas viaturas e uniformes dos policiais militares e civis, como indica projeto de nosso mandato, aprovado na Assembleia Legislativa da Bahia? Essa também foi uma promessa de campanha do governador em campanha e início de governo.
Quantos mais corpos negros precisarão tombar pela bala das polícias baianas até que essa providência seja tomada?
A conversa de “bala perdida” não pode mais ser usada e muito menos aceita. A mortandade tem vários nomes, vários conceitos, mas as vítimas quase sempre têm a mesma raça e classe.
Notas oficiais de pesar não são suficientes. Quando morre uma criança, como Gabriel, de apenas 10 anos, morre junto toda uma família, toda a vizinhança, a comunidade, um pouco de cada um de nós.
Enquanto segue o terror de estado liderado pelo governo baiano, mais depoimentos de mães pretas e periféricas se amontam entre falas como a da mãe de Gabriel, Samile Costa: "A viatura da 21ª CIPM já chegou atirando. Não teve troca de tiros, não teve nada. Quem atirou no meu filho não foi ladrão, foi a viatura da 21ª CIPM".
**Charge: Latuff