Para estancar a escalada autoritária, que seja Lula no 1º turno, mas sem esquecermos que a luta vai além disso
Por Hilton Coelho

Hilton Coelho

Precisamos pôr fim a essa experiência macabra no Brasil que tem sido o governo Bolsonaro. Vivenciamos um acúmulo sistemático e intenso de sucessivos ataques contra as instituições democráticas, contra o sentido republicano da nossa soberania, contra os direitos humanos mais elementares, como o próprio direito à vida. Podemos dizer que estamos vivenciando uma fase de agudização da crise humanitária e civilizatória instalada nesse território desde a colonização. E a fragilização das garantias do pacto democrático deixa brechas perigosas para que o fascismo se instale de forma estrutural e orgânica.

A escalada da violência política, de acordo com estudo da UniRio, cresceu no Brasil 335% desde 2019, primeiro ano da gestão de Bolsonaro. E o PSOL é o partido que mais acumula casos de violência e ameaças contra suas figuras públicas. O assassinato de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, em 2018, é emblemático e demarca os contornos da onda de violência política vinculada ao bolsonarismo. Saindo dos limites dos insultos e ameaças, essa violência assume a sua forma letal, interrompendo vidas. Foi assim que aconteceu com Moa do Katendê, morto a facadas por um bolsonarista. Foi assim que aconteceu com o petista Marcelo Arruda, no Paraná, assassinado por um policial penal, também bolsonarista. 

Certos da impunidade e com fácil acesso a armas em número jamais visto antes na história da república, seguidores de Bolsonaro passam a se sentir autorizados a interditar até mesmo comunidades inteiras, a promover genocídio, como vem ocorrendo com os povos da floresta amazônica. 

Esse é um governo predatório, que promoveu o desmonte de órgãos ambientais, indígenas e de proteção das comunidades quilombolas. E agora, com seu Projeto de Lei 191/2020, que autoriza a mineração em terras indígenas, anuncia uma catástrofe para os povos da região, para o meio ambiente e a vida no planeta.

Um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) revela que nos últimos três anos, houve um aumento de quase 57% de desmatamento da floresta. É um governo cujo comportamento público e arranjos nas nomeações de asseclas para os cargos chave dos órgãos que deveriam proteger esses segmentos, autoriza estupros, sequestros e extermínio contra as etnias da região. Essa é uma das receitas mais características de governos tirânicos para promover genocídios. Tenhamos em mente o que foi a Ditadura Militar no Brasil, período em que o Estado cometeu diversos crimes contra a humanidade. Ao menos 8,3 mil indígenas mortos estão na conta dos ditadores.

Adorador do torturador Brilhante Ustra, Bolsonaro é obscenamente racista, machista, lgbtfóbico e cujo discurso reforça a disseminação da violência derivada desses dispositivos. A aliança sinistra que deu origem a esse governo intensificou o retrocesso das conquistas das trabalhadoras e trabalhadores, desmontou a política participativa, construída a duras penas, devassou direitos sociais, institucionalizados com muita luta, promoveu miséria, fome e transforma o ódio e a morte em política de estado, garantindo ainda a impunidade, ao sentar sobre os pedidos de impeachment e as denúncias que uma Procuradoria Geral da República ilibada deveria investigar.

É escandaloso o que o governo Bolsonaro fez com o coronavírus: o transformou numa arma de extermínio, negando vacinas, cortando verba do SUS, se negando a trabalhar pela vida, promovendo no País um genocídio a céu aberto.  

Os caminhos da luta

Portanto, o nosso papel vai muito mais além de lutar para eleger Lula presidente. Esse caminho é crucial para estancar a escalada autoritária e de violência política que assola o País, mas não encerra as batalhas que temos pela frente.

Além de Bolsonaro, precisamos derrotar o ultra-neoliberalismo, que, depois de se valer do golpismo e granjear investidas com o próprio fascismo que ele mesmo patrocinou, passa agora, diante do cenário de reação popular contra a tragédia em que o Brasil foi submerso, a se disfarçar de cordeiro nas nossas trincheiras para se perpetuar.

É essa disputa que está posta para nós, que não nos contentamos com meras concessões revestidas de verniz populista: a disputa, efetivamente pela esquerda, por transformações estruturais e radicalização da democracia. 

Queremos um programa anticapitalista, que chegue junto à classe trabalhadora, que promova uma justa distribuição de renda, um programa sem bolsa-banqueiro, que reestatize nosso patrimônio público, que resgate e amplie nossos direitos diluídos por uma série de concessões antipopulares e, depois, pela extrema-direita, sem disfarces. 

Precisamos não somente derrotar a política do ódio e da morte que assombra o povo brasileiro, mas ficarmos bastante atentos na nossa contraofensiva estratégica, ao perigoso jogo dos lobos em pele de cordeiro, que se mimetizam para se conservar colonizando as já frágeis instituições democráticas. 

Por isso que nessa e em outras batalhas, seremos sempre RESISTÊNCIA!