Esse Novembro da Consciência Negra não será como os outros
Por Equipe da Resistência

Uma reflexão urgente se soma ao enfrentamento do racismo estrutural no Brasil: a forma como ele vem se expressando nos recentes movimentos de extrema-direita.

Nesse novembro da Consciência Negra, momento em que engajamos com mais força a nossa memória de lutas ancestrais e a força que o povo negro e ameríndio têm de resistir e (re)existir contra as formas mais vis de opressão, temos que nos perguntar o que tem levado segmentos de nossa sociedade, inclusive frações das populações vulnerabilizadas, exploradas e oprimidas, notadamente através do neopentecostalismo, a se aglutinar em torno desses ideais, a ponto de fazerem saudação nazi nos espaços públicos.

O que tem fisgado tantos "cães de guarda" para dentro das ideologias de extrema-direita, que é racista por natureza?

Durante o período de luta para a eleição de Lula presidente, realizamos no nosso Espaço Marielle e Marighella, no Rio Vermelho, diversos debates abertos para trocarmos ideias e reflexões sobre isso. Esse exercício foi muito importante para amadurecermos nossos caminhos de luta. Pretendemos continuar evocando essas discussões públicas para pensarmos e agirmos coletivamente. 

A força ancestral - Por hora, um dos exercícios de reflexão que sugerimos, principalmente no bojo do mês da Consciência Negra, é mergulharmos na nossa memória ancestral, agradecer e valorizar a força das mulheres negras e ameríndias, responsáveis por formas potentes de luta coletiva.

Por isso fazemos coro ao que afirma a ativista Ângela Davis, que busca na nossa história as nossas referências para enriquecer a luta de nossa irmandade da diáspora em outro continente: "Quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela", diz. 

Estejamos conscientes do que expressa Conceição Evaristo em sua poesia poderosa:

"Os olhos de nossos antepassados,
negras estrelas tingidas de sangue,
elevam-se das profundezas do tempo
cuidando de nossa dolorida memória".

É com essa força ancestral, sob os cuidados dela, que sobrevive e se multiplica hoje, que conseguimos vencer uma primeira etapa de uma luta que se fez desde a primeira corrente objetificadora dos corpos sequestrados de África, desde os esquartejamentos e estupros em massa de nossas ancestrais indígenas, e que se estende aos dias de hoje: derrotamos Bolsonaro nas urnas. Sim! A luta contra o bolsonarismo compõe uma luta muito maior e secular.

Que esse Novembro Negro se estenda por todos os outros meses vindouros e nos miremos nas nossas guerreiras. Será com o acúmulo histórico da trajetória dessas guerreiras brasileiras, que seguiremos lutando, com toda essa energia, para derrotar tudo que esse esquema cruel, atualizado, representa.

Que venha com força esse NOVEMBRO NEGRO!

SEJAMOS RESISTÊNCIA!


Ilustração: Jéssica Menezes