O Rio Vermelho e a esquerda baiana: reveses e novidades no xadrez político
Por Hilton Coelho

A inauguração do nosso Escritório Político Marielle e Marighella, no dia 12 de março, povoou o Largo de Santana, no Rio Vermelho, de uma multidão da RESISTÊNCIA! 


Marcamos no bairro símbolo dos tradicionais encontros da militância de esquerda baiana sinais de mais uma reconfiguração significativa desse espectro político no xadrez da política estadual. Quem foi ver para crer, flagrou a presença de diversas figuras históricas de movimentos populares na Bahia e que não têm encontrado espaço para suas agendas de lutas políticas fora do PSOL: um movimento de migração em que o ambiente psolista tem sido o receptáculo das militâncias que tiveram sua confiança rompida ou ainda que tiveram suas pautas travadas ou impedidas por outros territórios partidários correligionários ou aliados do atual governo do Estado. 

É um fato inquestionável que diversos movimentos populares na Bahia têm sofrido reveses em suas agendas com o governo do PT, que comanda o executivo estadual há 16 anos. Isso vem se acentuando, ao nosso olhar, devido à consolidação dos pactos do governo petista com setores historicamente conservadores e com setores atravessadores da relação com o capital estrangeiro. 

Com o avanço dos esquemas e projetos voltados a um projeto privatista, há quem diga que o governo de Rui Costa é flagrantemente antirrepublicano, anti-povo. É só pensar nas últimas articulações de Rui Costa para aprovar a privatização da Embasa e a insistência em manter uma política de segurança que carimba a polícia baiana como a mais letal do Nordeste, e cujas vítimas alvejadas por ela são 100% de pessoas negras.  

Não faltam exemplos de casos do movimento migratório do território político petista para os campos do PSOL. A socióloga Tâmara Azevedo, nossa pré-candidata ao senado, é um desses exemplos. Ela se mudou com todo o coletivo de entidades negras que cumpunha o PT para engrossar as fileiras da militância psolista na Bahia. Sem falar na recente costura de luta entre o nosso mandato no legislativo baiano e uma das maiores referências do movimento negro e da luta pelos direitos humanos, o professor de Direito, Samuel Vida.


Foto: Marcos Musse / Assessoria

 
O xadrez no legislativo 



Na Assembleia Legislativa, o reflexo dessa postura na gestão do Estado revela um ambiente hostil e engessado para as pautas voltadas aos movimentos populares.

Boa parte dos governistas cumpre um papel de trator que abre a passagem para a boiada passar com os Projetos de Lei do Executivo. Muitas vezes esse trator chega a se confundir com o corpo da oposição, que vota, feliz, inúmeras matérias convergentes. Uma convergência estranha ao que se considera ser de esquerda. 

Mas o contraponto mesmo da avalanche das articulações de Rui Costa dentro do ambiente legislativo, parece remar sozinho: somos nós, o único mandato do PSOL, até então, na Casa. Somos a única oposição de esquerda na Assembleia Legislativa da Bahia. 

Muitos movimentos sociais, órfãos da velha representatividade petista e com suas pautas travadas no legislativo, já declaram apoio explícito ao nosso trabalho na trincheira institucional.

Em pesquisa do Real Time Big Data, encomendada pela Rede Record no mês passado, eu cheguei a ter destaque como candidato ao Senado Federal. Apareci como terceiro colocado, com 8% de preferência dos votos, em um dos cenários estipulados pelo instituto de pesquisa. Comemorei, claro, a boa pontuação, mas reafirmo que vou competir novamente ao cargo que ocupo. Ainda há muito o que fazer como deputado estadual da Bahia.

Pelo que vem se desenhando, o nosso mandato tem sido o berço de acolhimento dos segmentos populares ignorados pela prática institucional e de gestão daqueles que sempre tiveram votos e apoio eleitoral desses movimentos sociais. Reafirmamos as nossas portas abertas para receber todes aquelas e aqueles que buscam somar resistência contra as injustiças sociais, protagonizadas por quaisquer que sejam os grupos políticos.

Foto: Marcos Musse / Assessoria


Novo ciclo

É perceptível ainda um novo ciclo do PSOL como braço da esquerda baiana, receptor dos rachas do PT. Configurações só vistas nas evasões petistas ligadas à fundação do PSOL, em 2004. 

A demanda sangrada dos movimentos sociais é tão grande, que o PSOL na Bahia, crescente em filiações, espera, além de reeleger o nosso mandato, eleger mais outro berço de acolhimento das lutas populares no legislativo baiano, e um mandato na Câmara Federal, sendo este último no contexto da federação com o Rede Sustentabilidade (Rede). 

Além disso, esperamos sair mais fortalecidos com as candidaturas que serão mais do que significativas para os movimentos populares na Bahia: a de nosso candidato ao governo do Estado, Kleber Rosa, cientista social, sindicalista e fundador do movimento Policiais Antifascistas, e de nossa candidata Tâmara Azevedo, disposta a travar e fortalecer as lutas populares no senado. 


*Hilton Coelho é deputado estadual (PSOL-BA), historiador, ativista dos movimentos populares, membro titular da Comissão Especial da Promoção da Igualdade e membro da Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia e Serviço Público, assim como da de Direitos Humanos e Segurança Pública, na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba).
**Foto capa: Marcos Musse / Assessoria